segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pedacinho de papel

Um dia escrevi seu nome num papel
Dobrei bem dobradinho
Mãos suando de satisfação
Coloquei numa caixinha
Deixando bem guardado, quase escondido
Coração acelerado
Já sabendo que aquele nome me traria algo além

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Guida


Senti o cheiro forte das flores

Margarida

Como num imenso jardim

Margarida

Brancas e amarelas

Margaridas

Acariciam meus dedos como veludo

Margaridas

Margarida

Homenagem à Mario Cravo Neto


A morte me veio num sonho

Levando com ela meu último suspiro

Presenteando-me com sua brancura alva, gélida

Me fazendo flutuar num caminho nunca conhecido

Aqui ficam todos

Todos aqueles que amo

Aqui deixo minhas lentes

Os meus olhos

Vi imagens belíssimas ao longo da vida

Fiz pupilas se dilatarem de alegria ou tristeza

Dilataram de emoção

Agora com os olhos fechados vejo a vida em preto e branco

A luz não tão boa

Fora de foco

Então vou indo

Olhos fechados

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Bela andava com pressa. Maldito salto alto que não a deixava correr. "Se estivesse com minha sapatilha já tava lá!". Pra piorar a situação ainda restavam as poças enlameadas da chuva que caíra a uma hora atrás. Não podia perder o horário. Essa seria sua chance de ganhar um dinheiro, mesmo pouco é bem verdade, mas seria seu, poderia realizar a tão esperada viagem. Enfim, chegou esbaforida na porta do prédio. Nunca havia entrado num edifício tão luxuoso. Pensou em ir ao banheiro ajeitar a roupa e os cabelos mas devido ao atraso, no elevador mesmo tentou melhorar sua aparência. Percebeu um furo no ombro do casaco. "Ângela me disse que essa porcaria era nova! Me empresta esse troço furado pô!". Ficou em dúvida se tirava o casaco. A blusa que usava por baixo era discreta porém muito simples, poderia não agradar. Andava meio desengonçada com toda aquela roupa, não estava acostumada com tudo aquilo. E aliás, agradar era o que Bela não acreditava conseguir. Sentia-se feia, era pequena, cabelo maltratado, pele ressecada. Sentia-se esperta, um pouco inteligente, mas sabia que tinha muito a aprender nessa vida. O elevador parou: 17º andar. Sala 1707 era seu destino. Tava escrito no papelzinho. Tentou andar um pouco mais devagar para não demonstrar desespero, mas por dentro... O coração estava saindo pela boca. Pediram que sentasse e aguardasse a sua vez para a entrevista. Odiava ter que esperar, mas era o jeito. Balançava as pernas. Pensamento positivo. Balançava as pernas ainda mais. Pensava no dinheiro, carteira assinada, a viagem daqui a um ano. Uma hora depois chegou a sua vez. Permaneceu na sala durante vinte minutos. Quando se despediu, apertou a mão do coordenador com um tremor que nunca havia sentido. Tremendo sim, mas com um sorriso largo no rosto. Bela estava empregada. A partir de segunda-feira trabalharia naquela lanchonete americana famosa, e o melhor, dentro do shopping no centro da cidade. Seria responsável pela limpeza. Deixaria tudo limpinho, "um brinco!". Quem sabe um dia fosse promovida à cozinha? Isso planejaria depois, o importante agora era juntar seu salário e buscar seu pequeno Luiz lá no sertão do Rio Grande do Norte.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Aqui dentro


Abra a minha cabeça

E saia sem se despedir

Sua presença aqui só lateja, pulsa

Quebra meus pensamentos abruptamente

Saia

Corra de mim

Fuja pois já não suporto ter você aqui dentro

Minha dor, perca-se!

Perca-se de mim

Me livre da posse

Deixe-me dormir e sonhar

Respirar fundo sem sentir você

sexta-feira, 3 de julho de 2009


Olha o meu peixinho

nadando solto no mar

Meu peixinho amado

nunca de mim fugirá

Solta bolhinhas a todo tempo

Será que pode se sufocar?

Ai meu peixinho como queria ser você

Percorrendo esse marzão de meu Deus

sem precisar colocar os olhinhos fora do mar

Mas faça isso ao menos uma vez, por favor

Venha me olhar

Pois tenho amor pra sempre te dar

Carência é que nem fome... quanto mais a gente tenta controlar ou mesmo esquecer mais forte fica... Já a solidão... que tristeza... devia viver só, só com ela mesma. Mas sempre vive em companhia de alguém, não sabe viver desgarrada. Ultimamente agarrou-se a mim... Não sei ao certo se há parceria entre as duas, carência e solidão, mas ultimamente estão cada uma de um lado, uma mão de cada... No entanto, tenho livre as minhas pernas... posso correr, quem sabe voar, bater asas e me livrar da solidão e da tristeza.

quarta-feira, 1 de julho de 2009


Sinto-me ofegante
Passos lentos, pupilas dilatadas
Querendo subir seguindo a estrada
Pernas bambas , desejo forte
Busco o sol
Parece que vai chover...
Querendo chegar lá
Imagino-me correndo montanha acima
Mas meu pulmão não permite.
Sento no cascalho nesse momento
Sou nordestino, sou cangaço
Pele queimada, sou a coragem
Pernas bambas mas pulso ainda firme

sábado, 30 de maio de 2009


Franciele era uma menina que não gostava de escrever. Tinha uma leitura fútil, desnecessária. Gastava muito com revistas, mas nada que realmente valesse à pena. Franciele era alegre, gastava seu pouco dinheiro também com maquiagem. Pintava a boca com batom vermelho. Os olhos eram carregados de sombra brilhante. Nada muito combinado e mesmo assim sentia-se bonita. Enquanto se arrumava pra sair ligava o rádio bem alto e dançava. As amigas de Franciele sempre se aborreciam com ela. Chegava atrasada, era seu costume. Franciele era alegre. A casa era uma bagunça, a mãe reclamava. Franciele sorria. “Essa menina não arruma nada! Só quer saber de namorar!”. Franciele nem ouvia. Era uma negra formosa. Magrinha que nem um cabo de vassoura. Dizia que se gostava assim, magra como as modelos magrelas da passarela. “Toda nega tem o pandeirão! Se eu não tenho faço a diferença!”. Ela gostava de si. Naquele dia quando voltava da festa com uma amiga conheceu um rapaz. Franciele ficou bem interessada. No dia seguinte ganhou de presente um livro. Era bonito, grosso, capa dura. O título parecia difícil, mas era bonito. Mostrou para suas mãe e suas amigas. Não deram importância. Jogado ali no sofá velho da casa, o livro foi perdendo seu valor, se é que um dia lhe deram. Uma semana depois, lembrando do presente “sem graça” que ganhou enquanto ficava aos agarros com o rapaz perguntou: “Pra que mesmo você me deu aquele livro hein?”. Questionada se já havia lido, abaixou a cabeça e meio envergonhada respondeu que não. Na verdade preferia um brinco, um colar, uma calcinha nova. O rapaz interessado ainda em convencê-la explicou que era um livro interessante e poderia ajudá-la em muitas coisas. Mesmo assim Franciele fez bico. Irritou-se e deixou o rapaz ali encostado sozinho no muro. Saiu correndo com um sentimento estranho no peito. Uma mistura de vergonha e desprezo. Sentiu-se pequena. Cutucaram sua ferida. Sentia queimar. Corria pela rua chorando, não sabia para onde. Percebeu que toda a formosura que enxergava no espelho não lhe valia de nada. Pra que tanto bico pintado? Pra que tanto rebolado mesmo com o “pandeiro” pequeno demais? Era pobre, sem instrução. Ali perto tinha um córrego. Descascando o esmalte vermelho das unhas decidiu. E foi ali mesmo. Água suja, escura e fétida. Num pulo só. Olhos fechados, tapando a respiração.
30/05/09

sexta-feira, 29 de maio de 2009




Fraco era um pássaro. Não. Fraco era um passarinho. Vivia numa gaiola antiga, onde diversos outros já estiveram trancados. Hoje era a sua vez. Olhava para os lados e sua visão multiplicava. Enxergava múltiplas hastes de arame ao seu redor. Arame grosso. Acreditava ser mais forte do que aquele obstáculo mas ao se bater percebia o engano. Teve que se recompor e aceitar observar a vida dalí de dentro. A vida dos outros. Questionáva-se quanto a sua vida. O que seria dela. O que seria dele. Parado em um daqueles pauzinhos de madeira olhava ao seu redor. O vento balançava suas penas violentamente. Sentiu o arrepio junto com a fome. A sede junto com a angústia. Pensou em clamar por ajuda, mas Fraco não sabia cantar. Nunca ninguém o havia ensinado. Analisando a gaiola descobriu que havia uma portinhola bem ali à sua frente. Pensou que seria fácil. Engano. Mesmo colocando toda a força no bico, Fraco nunca conseguiria abrir a pequena alavanca da portinhola. Parado manteve-se por mais alguns segundos. Chorou. Fechou os olhos e sonhou. Será que conseguiria escapar da gaiola? Será que saberia voar? Para onde iria? Agitava-se à procura das respostas... Será que um dia mudaria seu nome?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Você pequenina
Você tão simples assim
Me faz querer-te por perto
Pequenina
Você que vem correndo
Sorrindo e vindo
Indo em busca
Você pequenina crescendo assim
Assim ventando
Assim vivendo
Assim sentindo
Assim querendo
Assim pulsando
Você pequenina que me faz respirar forte, ofegante
Quando fecho olhos vejo você aqui
Bem perto
Em cima de mim
Toda minha
Crescendo
Rindo
Gigante
Enorme
Forte
Linda
Mulher

Ao acordar


Enquanto o vento sopra a água cai
Os raios do sol entram e secam o lençol
Esquentam meu corpo gelado, meu suspiro em silêncio
Olho pela fresta da janela o caminho que tem a seguir
Fico parada
Água com sal
Penso em me mexer, mas os pés não me obedecem mais
A brisa que entra arrepia meus poros
E à sensação dos seus a acariciar os meus me leva a apertar os olhos para não ver
Lembrar de tudo, todo o tempo
Querendo mais, de novo.
Levanto e em frente ao espelho digo a mim mesma
Meu nome é saudade.

segunda-feira, 27 de abril de 2009


Uma vez me disseram que amor de mãe é pra vida toda. Questionei-me logo em seguida: “Vida toda” de quem? Dela ou do filho? Apesar da minha “pouca” idade, me preocupei com isso. Hoje, folheando uma revista qualquer, apreciei a fotografia de um bebê risonho e vestido como uma boneca. Logo pensei: Quero um desse pra mim! Que criatura mais linda! Passaram-se alguns segundo e me veio a tal frase em mente. Veio com peso. Senti o vazio novamente. Este que vem me perseguindo a cada dia. Entristeci só de pensar se me tornaria uma mãe como a qual não quero ter. Enxuguei o rosto e tentei sorri como o bebê que sorria na foto. Pensei em nascer de novo, mas não da mesma barriga. De barriga nenhuma. Simplesmente nascer. Muito me admirei por pensar em nascimento... Alguém que vem “morrendo aos poucos” querendo nascer. Nem sequer perspectiva de placenta eu tenho. Quanto absurdo. Tentei me esquivar do meu sofrimento oculto e voltar àquela revista cheia de figuras. O bebê. Estava ali, rindo de mim. Rindo descaradamente. Senti inveja da sua felicidade. Quem seria sua mãe? Será que o amor dela por ele era “pra vida toda”? Será que ele a ama? E o seu amor também é para “a vida toda”? Não houve resposta. Fechei a revista. Ele apenas ri. Senti falta do ausente. De quem já não se faz mais. Não se faz mais para mim. Não me faz sentir o que seria pra sempre. Chorei por amor ou, quem sabe, pela falta dele.

(27/04/2009)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Silêncio


A mais pura vontade
Calada
Trancada em sua estória
Calada
Chorando por não ser quem é
Calada
Gritando por dentro, ecoando em sua respiração
Calada
Olhando nos olhos falantes, amados
Calada
Sorrindo timidamente enquanto recebia elogios sem cor
Calada
Querendo gritar e apertar-lhe ao peito
Ainda calada
Caída, morta, sem coragem, branca
Sem chão, sem verdade, sem mundo, o seu mundo
Coração pulsando por viver
Mas ainda assim calada.
21/04/2009.

A quem sentir


Amor amado

Fortalecido pelo tempo

Banhado pelo sol, acariciado pela chuva

Trazendo os sorrisos mais lindos

Corações entrelaçados, destinos livres

Liberdade de andar junto

Para sempre dois corações

(21/04/2009)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A rosa e o sol


A rosa canta
Lá vem minha gente a rosa
A rosa canta
A rosa dança
Dança linda, ela leve, ela solta.
Vem minha rosa que te espero há muitas horas
Venha que nos meus braços o vento arrepia e te fará sorrir
Sorrir esse riso farto, esse riso vago, esse riso que é só meu.
Corra que ao seu ritmo você vai longe
Longe bem longe, muito longe daqui
Vá, vá sim, sozinha
Livre
Linda
Solta
Sorriso largo
Para sempre a minha rosa.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Noite crua a um 1º de abril

Cheguei a imaginar que pudesse dormir. Deitei sentindo o corpo ausente, frio e sozinho. Pensava nas palavras ouvidas. Palavras lidas. Fechava os olhos mas o medo aumentava e assim abria-os rapidamente na tentativa rápida de fuga. Olhos próximos à parede branca, o delírio vinha como o vento. Tentando descobrir um “porquê”. Não sentia fome, nem vontade de sair dalí. O sono vinha mas lutava contra ele com indiferença. Queria manter-me acordado e descobrir do lençol a minha tristeza. Olhei o relógio... 2: 48hs. Nesse momento as pessoas dormem, bebem, vão ao banheiro, cantam, riem, voltam para casa, beijam e fazem mais. Estão juntas. Ou sozinhas. A angústia do amanhã continuava a tirar meu sono. Dia de sol ou de chuva. Provavelmente não seria interessante como havia planejado, sonhado, almejado. O diferente torna-se comum. A alegria transforma-se em um rosto sério novamente. A pulsação acelerada morna, adormece. E eu já não sei o que estamos vivendo.
01/04/2009.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Elegia a uma pequena Flor de Lis


Aquele garota escreve ,ela apenas escreve ,eu acreditava juro que acreditava que ela nunca seria capaz de escrever.Falar de dores da alma. Ah!! e falar com tanta propriedade...Uns dias atrás ela me mostrou um dos seus escritos,o que li deixou um vazio incrivel algo que senti depois de ter visto “Menina de ouro”. Juro que depois de ler um conto dela me senti um menino em posição fetal querendo uma coberta.Imagino que depois de ter lido aquilo , eu á respeito bem mais do que antes , agora me sinto igual a ela , iguais em dor, me sinto filho do mesmo o pai.Ontem eu vi uam foto que me chamou à atenção, pura doce, suave e brasileira-mente linda . Agora me sinto igual a ela , não tão belos é claro , mais filho do mesmo pai , renegados pela vida, amados pela dor e companheiros da solidão. Somos irmãos , somos filhos do mesmo pai herdeiros do amanha. Somos filhos de Caim... (Enzo de Marco)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


De branco veio o brilho no olhar
De branco o sorriso apressado
De branco seu abraço apertado
De branco a saudade abafada
De branco a vontade cantada
De branco as palavras amadas
De branco palavra afirmada
De branco nós
De branco o desejo
De branco beijo
De branco felicidade
De branco querendo ficar, sem partir, sem seguir, indo para voltar
De branco depois
De branco separados
De branco o descaso
De branco a dor
De branco sem estar
De branco buscando, olhando, teimando ao ponto de sufocar.
De branco chorando e sofrendo, voando pra encontrar
O que possa confortar quem já não tem mais a quem amar.
25/02/2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Além do que se sente


Pediram-me para escrever sobre a Alegria. Ou seria com alegria? Reli meus escritos com muita atenção e busquei, mesmo nas entrelinhas, a alegria e realmente n achei. Palavras tristes. Saudades. Desejos não satisfeitos. Uma pitada de tristeza, de solidão. Sentimentos fortes. Mas e a alegria? Sinto alegria quando escrevo, por mais que sejam momentos de muita dor, mas sinto alegria em reunir as palavras, todas juntas, umas sobre as outras, fluindo numa corrida incessante. Pois bem, pensei então em escrever mais um conto. Um conto de menina. Uma menina alegre. Criar um personagem com alegria. Criança ou adulto. Preto ou branco. Perto ou longe. Mas havia de ser alegre. Como não achei personagem em minha cabeça, pensei em procurá-lo nas ruas, praças de alimentação, pontos de ônibus, banca de revistas... Nada. Será que esse personagem não existe? Alegria... Alegria... Alegria do palhaço? Alegria de criança traquina comendo jujubas? Alegria de quem recebe o seu primeiro salário? Alegria da mãe na hora do parto? Alegria insana? Alegria do gozo suado? Alegria da chegada à sua cidade? Alegria, qualquer alegria? Segundo Michaelis alegria significa “contentamento, prazer moral, acontecimento feliz”. “Prazer moral”? Prazer é gosto, satisfação, gozo. Mas “moral”? Moral: “relativo à moralidade, aos bons costumes, que procede conforme a honestidade e à justiça, que tem bons costumes”. Quem disse que honestidade, bons costumes e justiça sempre proporcionam alegria? Ainda mais gozo! Essa é boa! Justiça. “Ação de reconhecer os direitos de alguém à alguma coisa, de atender às suas reclamações, às suas queixas, etc.” Mas veja bem. Quem reclama, traz queixa, está descontentado e busca o contentamento, a alegria. E a recebe se você faz “justiça”. Pois então a alegria não é sua. É do outro que vai embora, satisfeito. E onde fica a alegria compartilhada? Alegria de um só não me agrada. Alegria existe para contagiar. Como se fosse um vírus insano, devastador. Alegria que promove o sorriso limpo, aberto. Alegria que permite o abraço, o beijo, o calor. Alegria que liberta, que permite. Alegria em ser, em querer, em ter, em saber. Em alegrar.
(24/12/2007)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Tereza


Me sinto forte
Forte e leve como o ar, a água, o mar
Mulher de sorriso largo, dentes fortes, coração limpo e cheio
Vivo a sentir a intensidade
Meu sangue corre rápido
Minha respiração acelera cada vez que te vejo
Corro, brinco, grito, sussurro
Acordo louca
Cheia de vida e de querer
Um querer que não tem fim
Abraço forte, como muito
Abro-me inteira a espera da sua carne, do seu cheiro, do seu peso
Poros abertos, essa sou eu
Olho para o céu azul de um dia ensolarado
Assim fico muito mais feliz, jogada ao chão
Sorrindo longamente dentro do meu mundo mágico onde amo cada vez mais
Onde, quando, quem, como, qual e por que
Nada disso importa
Não me questione
Venha comigo e plantemos resposta

13/02/09

Quando você acordar


Gabriela estava ali parada, sentada na calçada. Os olhos marejados, úmidos. Teimava em não deixar a lágrima escorre-lhe pelo rosto. O vento do fim de tarde esfriava-lhe a pele. O vestido estampado parecia deixar-lhe mais alegre, colorida, mas não estava. Sentia-se abandonada, esquecida. Olhava para a janela e a luz continuava apagada. Estava ansiosa mas paciente. O cachorro fuçava o lixo em busca de alimento. Pensou em dar-lhe algo mais. Ambos abandonados ali. Ele poderia, quem sabe, ser uma companhia para aquelas horas que demoravam a passar. Mas o cachorro se foi. Antes de descer a ladeira olhou-a rapidamente não demonstrando-lhe nenhum interesse e muito menos companhia. Pensava se estava fazendo a coisa certa. Não conseguia pensar. Esperava. A janela continuava escura. Olhou o relógio e só então percebeu há quanto tempo estava ali. Sentia as nádegas queimarem adormecidas. Negava-se ficar em pé para não correr o risco de desistir. Queria ficar ali à espera. Guardava muitas palavras e sentimentos. Precisava entregar. Mas ele não acordava. Sentiu fome. Sabia que ali perto havia um bar, haveria de ter algo saboroso, ao contrário da saliva espessa que engolia. Abriu a bolsa timidamente e contando algumas moedas concluiu que não conseguiria uma grande refeição. Se não era pra ser grande, preferia ficar ali. Tudo para Gabriela era grande. Seu desejo, seu amor, sua vontade. Eram gigantescos. Respirava forte, andava rápido, buscava muito, queria mais, muito mais. Tanto para quem era tão pequena. A fome e a brisa fria contribuíam para que o sono a enlaçasse os olhos. Mas não se permitiria dormir. Havia de estar bem alerta, pois a qualquer momento... Enfim! A luz do quarto acendeu. Respirou fundo ainda sem coragem de levantar-se. Os olhos arregalados como duas jabuticabas esperavam ansiosos que ele pousasse na janela. Ainda nada... Apenas a luz. Pensou em fazer barulho para chamar atenção. Com o coração aos pulos pegou uma lata e jogou ladeira abaixo. O titilar do alumínio no asfalto não ecoou o suficiente. E se lhe chamasse o nome? Gritaria com fervor. Amor. Paixão. Tristeza. Os olhos apontados para a janela encharcavam-se em lamento. Por que não ir à janela admirar a noite? O que custava? Não sabia como chamar a atenção. Música... Ao longe ouvia uma linda canção chegando. Olhou para a esquina e avistou um senhor em passos lentos aproximando-se com um pequeno rádio de pilhas nas mãos. Que canção linda! Nunca havia escutado. Era linda. Falava de amor. Exatamente do seu Amor. O homem parou a vê-la tão emocionada. Não disse nada, apenas admirava o brilho dos olhos de Gabriela. Foi então que se lembrou de olhar para a janela. Como pôde distrair-se tanto! Mas nada havia mudado. O homem aumentou a música. Aumentou tanto que todos poderiam ouvir. Gabriela sorriu. Agora sim conseguiria vê-lo na janela. Gritou forte o seu nome, com tanta força que sentiu a garganta rasgar. “Ouça a música! Ouça a MUSICAAAAAAAAAA!!! É PRA VC!”. Imediatamente a luz apagou. Fria. Gabriela estava fria e branca. Os olhos murcharam como as pétalas no outono. Os braços caídos não tinham mais força. As pernas tremiam fracas levando seu corpo ao chão. Sentiu o frio das pedras. Seu corpo não mais lhe obedecia. A música que ouvia agora era apenas o pulsar agonizante do seu coração. Os olhos de tão pequenos se fecharam. Parecia morrer. Não ouviu o titilar do portão que se abria. Ele veio correndo e agarrou-a em seus braços. O abraço quente em choque com o corpo frio de Gabriela. Gritava o seu nome de forma desesperada. Também queria dizer-lhe algo. Ela não ouvia. Havia estado à noite anterior na janela à espera dela. Sono reprimido, olhos caídos, choro de quem espera. Apertava-lhe o peito. Fraqueza. Gabriela não estava mais ali. Não desistiu. Aceitou ficar apenas em si.
(13/12/08)

Poesia quebrada


Sentiu a ternura da pele
O gosto do prazer em sentir-se forte
Busca os braços de quem não está ali
Cheiro de lírios
Cheiro doce, gosto amargo
O olhar que se quebra ao partir dos seus braços
Quis iniciar um novo caminho, mas a estrada já está traçada e o pedregulho afiado
Teme ser sozinho
Recomeçar com as mãos livres sem se agarrar ao troco
Pegadas vazias na areia
Deseja quebrar essa amarra que lhe suga a inspiração
E percebe que seu destino é amar
Amar o amor incondicionalmente
Mesmo que esse amor o condene à solidão de quem nunca será amado.

Parto


Encontro marcado, desejo rompido
Uma força que impulsiona mas não rompe
Suor, temor, desejo, gozo
Nada vem se ela não quebrar o vidro
Romper a gaiola essa é sua missão
Faz com força, grita, geme por dentro e treme
Treme de desejo, de raiva...
O olhar que chama não é a mão que adormece ali ao colo, morta, fraca.
Parece lhe sugar o impulso, mas não o faz
Porque o impulso não existe
É desejo, é força, é mais
Muito mais do que ela mesma pode crer
.
(nov/2008)

Casulo I


Você me fala de coisas
Simples como o nosso olhar
Não me traz flores
Mas me arranca as pétalas e as deixa caírem ao chão.
O toque sutil que só você soube ter
Falta
Falta que sinto de nós
Sentindo-me um tudo em meio a esse céu azul de encontro às árvores
Cenário para os meus delírios e sorrisos.
Menina que passa num caminhar torto
Pede abrigo
Encontra você para continuar.
(out/2008)

Imprópio


O vento forte me arrepia a pele
Me coloco em seu lugar
Me vejo claro e obscuro
Amargo e límpido
Espinhos envolvidos em seda
O calor que me consome, me suga Incessantemente lhe provoca a inspiração
Deixo-te distante, mas curioso em me instigar
Quis ir além, prender você em meus braços
Ser o gancho em sua navegação
Mas não tenho lugar
Não tenho papel
Não sou personagem
A história que me é dividida apenas me é contada, lida
Onde não faço parte, onde não tenho comandos
Observando meus passos você me esmaga me impõe a dor de ser fraco
A chuva que escorre pelo vidro é apenas um detalhe
Cenário ideal para a melancolia
Sonoplastia franca de uma relação que nunca existiu.
(dez/2008)

Gosto de dendê


Guardei seu nome num papel para que ele não fugisse de mim
Mas você se desprendeu facilmente como o cordão a se desenrolar em busca do vento forte.
Fiz uma canção para te chamar a ficar ao meu lado
Deitados na rede adormecendo em meio a esse céu com o cheiro do dendê
Essa maré mansa que nos espera lá fora
Suga toda e qualquer amargura que vivemos ontem e me faz te querer ainda mais forte
Você ainda mais sensível
Cristalino
Evidente sensação de que tudo começou.

Nada a mais


Olhos abertos, o coração fechado
Creio que não há o que dizer enquanto a brisa de fim de tarde carrega consigo minha vontade.
Morro em meu silêncio.
Sinto falta de mim, da minha força, do meu caminho.
Vivo a tragédia de perceber que não significa mais o que sinto.
Sentir o que o homem sente para se perceber mais confortável.
Engulo seco e respiro fundo só pra te ver passar em frente ao portão
Mas nesse momento sua fuga lhe fecha os olhos e você não ouve os meus passos.
Amoleço no colchão esperando uma iniciativa sua, um olhar duro, mas você respira levemente em seus pensamentos.
Pinto paredes enquanto canso dessa novela
Ou seria mais uma estação?
A primavera tão admirada por seu perfume de flor me dá angústia e lentifica o meu pulso.
Desejo ser quem não sou para ter o que sempre fingi não ser.
30/11/2008

Paixão segundo o mar


Sempre durante a tarde o vento me traz a lembrança de você
Rasgando minha pele, arrepio.
O sol que vai se pondo me traz uma vontade enorme te de ter ao meu lado, ouvir sua voz, sentir o teu abraço.
Mas como você não vem, fico aqui na janela.
A luz e o calor do sol deixam o céu mais bonito.
Espero por um sinal, um chamado.
Sabe que iria correndo ao seu encontro
Mas não me chama.
Me questiono se tudo isso é ideal.
Querer você e não te ter, nem nunca terei.
Nem sei se é o melhor para mim. Nesse momento só queria estar.
Não me preocupo se seremos, o que quero é estar com você.
Conjugar o verbo no infinitivo é o que nos cabe.
Me faz uma falta enorme sentir seu olhar fixo ao meu
Olhar que você diz ser desejo com um leve sorriso no canto dos lábios.
Ah! Quanto sentido! Estar aqui sozinho agora tem me doído muito.
Seguro minhas lágrimas por enquanto
Minha respiração ofegante não vê a hora de sentir a tua.
(13/12/08)

Recomeço de encontro ao mar



Estava próxima ao mar. Sentindo o vento acariciar seu rosto como há muito tempo ninguém fazia. O prazer que sentia ao olhar o mar a fazia suspirar de tamanha felicidade. Estava triste, era bem verdade. Mas ali, com os pés na areia, abraçada pela brisa e acariciada pelo mar sentia-se segura e protegida. Tudo que havia passado, toda aquela dor, parecia se diluir em meio ao mar, ao ar, à areia... Pensou em quantas vezes desejou estar ali acompanhada por certo alguém. Desejou um dia rolar na areia livre como duas crianças. Correr na beira d’água, pulando pequenas ondas, sem medo, braços livres, peito aberto. O sol estava tímido naquele dia por entre algumas nuvens cinzas. Cinzas como o seu sorriso, seu coração. Largou tudo para estar ali. Sozinha. Mas acalentada pelo mar. As ondas que iam e vinham eram o espelho da sua coragem. Coragem que vai e vem. Num ritmo qualquer, pois o desejo, assim como o vento, era transparente. Grande domador das ondas, da sua coragem. A cada avanço um recuo. A cada passo dado um retrocesso. Sua vontade era permanecer ali, naquele paraíso. Poderia ser sua casa. Não precisava de paredes, teto, móveis. Tinha o céu, o mar, o vento e a areia. Ninguém que tocasse a campainha. Então, deitou-se na areia sorridente. Sorriso largo. As nuvens estavam se dissolvendo. Pingos frios caiam sobre seu rosto agora corado. O toque suave das gotas de chuva a acarinhavam e umedeciam seus poros, encharcavam seus cílios e sua boca. Emoção. Tinha certeza que ali era o seu lugar.
16/12/2008

Gozo Flutuante


Miragem
De encontro a Lua vem brotar da sobra
Vem ser meu destino, minha escravidão
Que seja sua a minha estrada
Que venha a mim sua caminhada
Encontro de luzes
Broto frágil de vida que nasce dessa ilusão inocente
Suga-me a coragem, carrega minha força em seus braços
Que eu suspiro de prazer em sentir a sedosa presença
Conspirando ao nosso delírio
À cegueira desejada num túnel de lírios rosados
De pedras afiadas e de estrondos melancólicos
Com gosto de cassís.
16/12/2008

Desacalanto


Felicidade. sentimento que enchia seu peito e o deixava apertado. Seus olhos não só brilhavam, mas pareciam querer saltar à face. Falava muito, sorrindo o tempo todo. Os gestos embaraçados, o caminhar apressado o faziam cansado. Não havia problema. Existia felicidade. Estava renascendo naquele dia e isso o fazia sentir-se importante. As pessoas na rua poderiam não perceber sua importância, mas ele sabia. Acordou com a claridade no quarto, olhos colados, ainda sentindo o peso da noite anterior. Ao lembrar-se do "dia D", logo pulou da cama e tratou de arrumar-se e sair. Andava como um perdido, entrando e saindo de lugares comuns e aqueles nunca conhecidos. Olhava a todos com os olhos bem apertados. Parecia querer dizer algo muito mais do óbvio "bom dia". Comprou muitas coisas nesse dia. Limpou muito bem a casa, como há muito tempo não fazia. Tratou de vestir sua melhor roupa. Barbeou-se. Lembrou-se do perfume há tempos recebido da sua falecida avó. Agora sim, estava pronto. Olhava o relógio ansioso. Decidiu enfim sentar-se e esperar, mesmo sendo para ele uma difícil tarefa. Sentia o sofá desconfortável. pensou em comprar outro. Aquele acabaria com sua coluna. pensou em servir-se, o jantar estava cheirando bem. Não. Não poderia ainda. Deveria esperar. Onde estariam? As horas passaram. Na televisão nada o interessava. Ficou entediado. Sentia dor nos calcanhares. A azia também começava a dar sinal de sua presença. Deu-se conta da hora. Suspirou desapontado. Lembrava dos anos anteriores. Olhou para o telefone. Sentiu vontade de chorar e permitiu que apenas uma lágrima escorresse pelo seu rosto. Sentou-se à mesa. Ficou em transe por uns dez minutos. Decidiu não pensar. Mastigou a comida lentamente. Degustava o vinho como a uma mulher. Sentiu-se cheio, rompido. Não havia mais esperança. Enfim, após algumas horas entregou-se ao nascer do dia e fechou os olhos então. Mas ainda antes de pegar no sono fez seu último brinde. Feliz aniversário meu caro!
(06/11/2008)

A cor da perda

Os minutos passaram depressa e ela ficara nervosa por isso. Sentia raiva do relógio. Mas enfim ao descer do carro logo o avistou. Estava alí, à sua espera. Os olhos dela brilhavam emocionados, mas inesperadamente desfaleceram. O encontro seria a três. Ela não conhecia aquela outra pessoa. Pele clara, olhos profundos, bastante arredondados. Foi logo apresentada, mas não conseguia sentir "prazer em conhecer". Estava desapontada. Havia corrido tanto para estar alí, para encontrá-lo e falar sobre seus sentimentos. Permaneceram sentados durante longos minutos. Seus acompanhantes pareciam estar se divertindo, mas ela estava cada vez mais inerte. Querendo fugir desesperadamente. Perdeu a força junto com a esperança. Via felicidade nos olhos dos dois. Prazer. Ouviu confidências. Risos. E tudo aquilo a pertubava. Derrubou um copo. Pediu desculpas quase que silenciosamente com os olhos baixos. Achava-se feia naquele momento. Apagada. Desnecessária. Teve vontade de despencar ao chão e o fez. O peso do seu corpo a fez sentir dor, mas a dor mais aguda vinha do seu ventre. Ouvia muitas vozes e sentia algumas mãos pelo seu corpo. Sentia-se úmida. Não conseguia identificar o porque do chão molhado e quente. Por vezes tentou abrir os olhos. Vermelho. Tudo era vermelho naquele momento. Ela sabia, mas ele não entendia o porque.
(10/10/2006)