sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Desacalanto


Felicidade. sentimento que enchia seu peito e o deixava apertado. Seus olhos não só brilhavam, mas pareciam querer saltar à face. Falava muito, sorrindo o tempo todo. Os gestos embaraçados, o caminhar apressado o faziam cansado. Não havia problema. Existia felicidade. Estava renascendo naquele dia e isso o fazia sentir-se importante. As pessoas na rua poderiam não perceber sua importância, mas ele sabia. Acordou com a claridade no quarto, olhos colados, ainda sentindo o peso da noite anterior. Ao lembrar-se do "dia D", logo pulou da cama e tratou de arrumar-se e sair. Andava como um perdido, entrando e saindo de lugares comuns e aqueles nunca conhecidos. Olhava a todos com os olhos bem apertados. Parecia querer dizer algo muito mais do óbvio "bom dia". Comprou muitas coisas nesse dia. Limpou muito bem a casa, como há muito tempo não fazia. Tratou de vestir sua melhor roupa. Barbeou-se. Lembrou-se do perfume há tempos recebido da sua falecida avó. Agora sim, estava pronto. Olhava o relógio ansioso. Decidiu enfim sentar-se e esperar, mesmo sendo para ele uma difícil tarefa. Sentia o sofá desconfortável. pensou em comprar outro. Aquele acabaria com sua coluna. pensou em servir-se, o jantar estava cheirando bem. Não. Não poderia ainda. Deveria esperar. Onde estariam? As horas passaram. Na televisão nada o interessava. Ficou entediado. Sentia dor nos calcanhares. A azia também começava a dar sinal de sua presença. Deu-se conta da hora. Suspirou desapontado. Lembrava dos anos anteriores. Olhou para o telefone. Sentiu vontade de chorar e permitiu que apenas uma lágrima escorresse pelo seu rosto. Sentou-se à mesa. Ficou em transe por uns dez minutos. Decidiu não pensar. Mastigou a comida lentamente. Degustava o vinho como a uma mulher. Sentiu-se cheio, rompido. Não havia mais esperança. Enfim, após algumas horas entregou-se ao nascer do dia e fechou os olhos então. Mas ainda antes de pegar no sono fez seu último brinde. Feliz aniversário meu caro!
(06/11/2008)

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