sábado, 31 de julho de 2010

Os olhos piscavam sem parar! Piscavam no mesmo ritmo do coração. Era um cisco. Mas não era ele que provocava. Tudo era daquele jeito, naquele momento, tudo, nada. Sensação de vazio, de algo inacabado. O inacabado que foge às mãos, aos olhos. Tudo por causa de um suspiro, um desejo, um seguir. E quem ficava alí parava. Parava ao olhar que a partir daquele momento o inacabado se recriava.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Jujubas


Fernandinho adorava jujubas.
Doces e coloridas, açucaradas e macias. Brincava em saborear suas cores preferidas primeiro. Vermelha, roxa, amarela. Fica pra depois a laranja e a verde. Aquela boca rosa por natureza ficava toda açucarada a mastigar aquelas pequenas delícias. A mãe teimava em limpá-la mas era assim que ele gostava. "Boca de açúcar". E qual o problema? Assim tudo fucava mais doce pra Fernandinho.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Grito


Atordoada. O coração acelerado não suportava mais tamanho escândalo. O som dos motores e das buzinas, da chuva, das vozes, do vento. Os ouvidos não suportavam mais. O coração acelerado. As pupilas dilatadas. O coração acelerado. Os músculos fadigados. O coração acelerado. Olhava ao redor, buscava uma saída, uma brecha. Sentiu-se aprisionada, acorrentada. Um, dois, três... Respirava tentando se fortalecer, oxigenar seu corpo e explodir. Explodir como uma bomba em cima de tudo e de todos. Estava exausta. Desiludida. Raivosa. Revoltada. Correu contra o tempo, contra as palavras, contra tudo e contra todos. Apagar da sua memória toda aquela tragédia. Abre e fecha os olhos. Uma, duas, três... De volta ao silêncio...

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Lenço


Hoje no ônibus vi uma senhora de lenço amarrado na cabeça. Era bonita, gorda e bem disposta. No entanto, era nítida a sua doença. Faltavam-lhe os cabelos. Olhei bem os seus olhos e não via tristeza. Fiquei pensado... Pensando quanto vale o choro. Já chorei por muitas coisas nessa vida. Choro de dengo, choro por fome, choro de dor, de saudade, de perda, de muitas perdas, choro de felicidade. Choramos muitas vezes, por muitas coisas. Inclusive por motivos banais. Choramos por drama, tensão exagerada. A mulher do lenço não chorava e cheguei a pensar que ela deveria estar chorando. Mas não estava. Pelo contrário, ela sorria. Sorria verdadeiramente. Fazia questão de conversar com quem sentava ao seu lado transmitindo alegria, espontaneidade. E seus olhos brilhavam. Chegou enfim o momento de me levantar e ir embora. Me agoniei por sair dalí e não ter estado mais próxima dela. Foi então que na pressa da saída, dos pedidos quase infinitos de "com licença", não resisti e perguntei: "Por favor! Que horas são?"