segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Guida


Senti o cheiro forte das flores

Margarida

Como num imenso jardim

Margarida

Brancas e amarelas

Margaridas

Acariciam meus dedos como veludo

Margaridas

Margarida

Homenagem à Mario Cravo Neto


A morte me veio num sonho

Levando com ela meu último suspiro

Presenteando-me com sua brancura alva, gélida

Me fazendo flutuar num caminho nunca conhecido

Aqui ficam todos

Todos aqueles que amo

Aqui deixo minhas lentes

Os meus olhos

Vi imagens belíssimas ao longo da vida

Fiz pupilas se dilatarem de alegria ou tristeza

Dilataram de emoção

Agora com os olhos fechados vejo a vida em preto e branco

A luz não tão boa

Fora de foco

Então vou indo

Olhos fechados

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Bela andava com pressa. Maldito salto alto que não a deixava correr. "Se estivesse com minha sapatilha já tava lá!". Pra piorar a situação ainda restavam as poças enlameadas da chuva que caíra a uma hora atrás. Não podia perder o horário. Essa seria sua chance de ganhar um dinheiro, mesmo pouco é bem verdade, mas seria seu, poderia realizar a tão esperada viagem. Enfim, chegou esbaforida na porta do prédio. Nunca havia entrado num edifício tão luxuoso. Pensou em ir ao banheiro ajeitar a roupa e os cabelos mas devido ao atraso, no elevador mesmo tentou melhorar sua aparência. Percebeu um furo no ombro do casaco. "Ângela me disse que essa porcaria era nova! Me empresta esse troço furado pô!". Ficou em dúvida se tirava o casaco. A blusa que usava por baixo era discreta porém muito simples, poderia não agradar. Andava meio desengonçada com toda aquela roupa, não estava acostumada com tudo aquilo. E aliás, agradar era o que Bela não acreditava conseguir. Sentia-se feia, era pequena, cabelo maltratado, pele ressecada. Sentia-se esperta, um pouco inteligente, mas sabia que tinha muito a aprender nessa vida. O elevador parou: 17º andar. Sala 1707 era seu destino. Tava escrito no papelzinho. Tentou andar um pouco mais devagar para não demonstrar desespero, mas por dentro... O coração estava saindo pela boca. Pediram que sentasse e aguardasse a sua vez para a entrevista. Odiava ter que esperar, mas era o jeito. Balançava as pernas. Pensamento positivo. Balançava as pernas ainda mais. Pensava no dinheiro, carteira assinada, a viagem daqui a um ano. Uma hora depois chegou a sua vez. Permaneceu na sala durante vinte minutos. Quando se despediu, apertou a mão do coordenador com um tremor que nunca havia sentido. Tremendo sim, mas com um sorriso largo no rosto. Bela estava empregada. A partir de segunda-feira trabalharia naquela lanchonete americana famosa, e o melhor, dentro do shopping no centro da cidade. Seria responsável pela limpeza. Deixaria tudo limpinho, "um brinco!". Quem sabe um dia fosse promovida à cozinha? Isso planejaria depois, o importante agora era juntar seu salário e buscar seu pequeno Luiz lá no sertão do Rio Grande do Norte.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Aqui dentro


Abra a minha cabeça

E saia sem se despedir

Sua presença aqui só lateja, pulsa

Quebra meus pensamentos abruptamente

Saia

Corra de mim

Fuja pois já não suporto ter você aqui dentro

Minha dor, perca-se!

Perca-se de mim

Me livre da posse

Deixe-me dormir e sonhar

Respirar fundo sem sentir você